A ação real começa
numa profunda mudança em nós, dentro de nós. Não adianta
juntarmos milhares de análises sobre a sociedade, sobre o que está
fora de nós.
É só a mente dando
voltas e rodeios e alimentando o paradigma da expectativa e do
julgamento. Se assim fosse a universidade estaria mil passos à
frente e já teria causando uma mudança pós-revolucionária no
mundo.
Mas quantas pessoas eu
vejo com análises lindas, intelectuais que eu respeito muito e que
adoro escutar mesmo, mas que não praticam um décimo da utopia.
Precisamos transmutar em nós. Nossa emoção é a matéria prima da
transmutação. Nossa opinião sobre algo nada interfere nas nossas
ações sobre isso.
No momento em que aparecem os desafios no cotidiano é que surge aquela educação que está nas primeiras
camadas de nossa memória e que transformam esses desafios em ameaças. Essa educação é que dita também a forma que vemos o mundo.
A forma como reagimos
emocionalmente a algo está diretamente relacionada com o tipo de
impotência que sentimos. Ao nos sentirmos impotentes no presente
passamos a sonhar com o futuro, mas a utopia só é distante porque
somos impotentes. A utopia não será mais utopia no dia que vivermos ela na presença.
Além de sonhar, a
revolta é outro sinal de nossa própria impotência. Ficamos
estagnados em campos emocionais ligados às frustrações e traumas
que passamos quando fomos colocados no lugar de vítimas. Uma
armadilha de nossa mente é que podemos nos revoltar com aquilo, mas
assim não percebemos que estamos sustentando nosso lugar de vítimas,
estamos nos alimentando do paradigma da expectativa.
Afinal o remédio para
tudo aquilo que concebemos como frustração é criar expectativas e
tanto o sonhar com o futuro como a revolta são formas diferentes de
se criar expectativas, mas são respostas sempre fora da presença
para nossos traumas e frustrações do passado.
Envolvidos num ciclo
frustração-expectativa há pessoas que passam anos estagnados,
sofrendo em seu lugar de vítima, impotentes. Vivem o paradigma da
expectativa e não percebem que não há solução fora de nós se
no mínimo não há soluções dentro de nós.
Viver no paradigma da
expectativa é sinônimo de viver no paradigma da frustração ou no
do julgamento. O julgamento é o principal sinal do paradigma da
expectativa e se estamos julgando a nós ou o outro, ou a sociedade,
nada disso importa. Estamos com os pés fincados no paradigma da
expectativa.
Dentro de nós podemos
realmente agir para mudança. O único lugar real onde podemos
impulsionar a mudança de paradigma é dentro de nós. A partir
dessa mudança passamos a perceber o quanto somos criadores de nossa
realidade e a nos reconectar com nossas potências de mudança.
Mas o desafio é
manter-se no paradigma da presença, vendo nossas emoções fluirem
sem entrar em julgamento. Focando na seleção das nossas próprias
emoções. Corregendo cada vez mais as primeiras camadas de nossa
memória. Assim acontece a mudança. A cada dia, sem testemunhas
exteriores, aproveitando todas as oportunidades podemos começar a
construir nossa vida dentro de um outro paradigma, o paradigma da
presença.
*Por Igor Sant'Anna Caxambó