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Monday, December 21, 2015

Convivendo com nós

A convivência é a base da sociabilidade humana e mais do que isso, é através da convivência e somente através dela é que podemos compreender, vivenciar e sentir o amor.

Maturana nos afirma o quanto o amor faz parte da biologia humana lembrando que é só observar uma criança pequena dando comida na boca de sua mãe.

A sociedade escolarizada não nos tirou da convivência, pois já faz parte de nossa biologia. Mas a convivência escolarizada nos tira a possibilidade de vivenciar uma sociabilidade plena.

Exercitamos nossa inteligência racional e atrofiamos a inteligência emocional. Afastados do nosso corpo e do conhecimento do fluxo vital de nossos sentimentos.

Aprendemos a resolver os problemas que nos mandam, da maneira que nos mandam, mesmo sem gostar que nos mandem. Nos forçaram para baixo até perdermos a conexão com nossa potência criativa.

Nos tornamos vítimas do ensino, da hierarquia, das notas, das panelinhas, da raiva, do julgamento do outro, das notas vermelhas, do sistema, do Estado, do macho, da escola, das epidemias, das ilusões da TV, do consumismo, da competitividade...

Tudo se traduz em constantes ressentimentos que procuram suprir a falta de fluxos gerada pelos sentimentos estagnados. Aprendemos só duas maneiras de estar no mundo, sendo vítimas passivas, ou vítimas ativistas. Porém as duas maneiras estão repletas do mesmo medo de se responsabilizar pelos próprios sentimentos, afinal esse é um campo totalmente desconhecido.

Com a cultura escolarizada o que menos aprendemos é a saber conviver bem, com cooperação, solidariedade, amor, percepção, aceitação do outro como legítimo outro na convivência.

Aprendemos a resolver os problemas do mundo, mas nunca aprendemos a. resolver os nossos próprios problemas. Nos iludimos em buscar as respostas e soluções sempre fora de nós e por incrível que pareça, se não conseguimos conviver com o outro é porque não aprendemos a conviver com nós mesmos, com os nossos próprios sentimentos.

Naturalmente necessitamos da companhia de outros, mas de nada adianta buscar uma sociabilização externa como escapatória para nossas cisões internas. Em algum momento essas cisões surgirão como um esgoto que brota da areia poluindo uma praia paradisíaca.

Mas também não adianta fugir do outro para nos preparar totalmente para a convivência com o outro, pois nunca estamos prontos e mais uma vez caimos na armadilha da linearidade racionalizada da escolarização.


Conviver com o outro é a oportunidade de encontrar-nos com nós mesmos e de transmutar nossos nós internos decorrentes dos próprios medos em fluxos de vida repletos de amor.   
*Por Igor Sant'Anna Caxambó