A convivência é a
base da sociabilidade humana e mais do que isso, é através da
convivência e somente através dela é que podemos compreender,
vivenciar e sentir o amor.
Maturana nos afirma o
quanto o amor faz parte da biologia humana lembrando que é só
observar uma criança pequena dando comida na boca de sua mãe.
A sociedade
escolarizada não nos tirou da convivência, pois já faz parte de
nossa biologia. Mas a convivência escolarizada nos tira a
possibilidade de vivenciar uma sociabilidade plena.
Exercitamos nossa
inteligência racional e atrofiamos a inteligência emocional.
Afastados do nosso corpo e do conhecimento do fluxo vital de nossos
sentimentos.
Aprendemos a resolver
os problemas que nos mandam, da maneira que nos mandam, mesmo sem
gostar que nos mandem. Nos forçaram para baixo até perdermos a
conexão com nossa potência criativa.
Nos tornamos vítimas
do ensino, da hierarquia, das notas, das panelinhas, da raiva, do
julgamento do outro, das notas vermelhas, do sistema, do Estado, do
macho, da escola, das epidemias, das ilusões da TV, do consumismo,
da competitividade...
Tudo se traduz em
constantes ressentimentos que procuram suprir a falta de fluxos
gerada pelos sentimentos estagnados. Aprendemos só duas maneiras de
estar no mundo, sendo vítimas passivas, ou vítimas ativistas. Porém
as duas maneiras estão repletas do mesmo medo de se responsabilizar
pelos próprios sentimentos, afinal esse é um campo totalmente
desconhecido.
Com a cultura
escolarizada o que menos aprendemos é a saber conviver bem, com
cooperação, solidariedade, amor, percepção, aceitação do outro
como legítimo outro na convivência.
Aprendemos a resolver
os problemas do mundo, mas nunca aprendemos a. resolver os nossos
próprios problemas. Nos iludimos em buscar as respostas e soluções
sempre fora de nós e por incrível que pareça, se não conseguimos
conviver com o outro é porque não aprendemos a conviver com nós
mesmos, com os nossos próprios sentimentos.
Naturalmente
necessitamos da companhia de outros, mas de nada adianta buscar uma
sociabilização externa como escapatória para nossas cisões
internas. Em algum momento essas cisões surgirão como um esgoto que
brota da areia poluindo uma praia paradisíaca.
Mas também não
adianta fugir do outro para nos preparar totalmente para a convivência com o outro, pois nunca estamos prontos e mais uma vez caimos na
armadilha da linearidade racionalizada da escolarização.
Conviver com o outro é
a oportunidade de encontrar-nos com nós mesmos e de transmutar nossos nós internos decorrentes dos próprios medos em fluxos de vida repletos de amor.
*Por Igor Sant'Anna Caxambó